Eu tenho medo de crescer.

O desabafo de uma menina no final da adolescência.

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Sempre fui a criança corajosa, a que aprontava de tudo, que fazia as coisas mais perigosas, que ia nos brinquedos mais radicais - mas conforme eu envelhecia, tinha uma coisa que a minha coragem não conseguia combater: o meu medo de crescer.

Conforme o tempo vai passando, eu sinto que tudo que conheço tem data de validade. No meu caso, só mais dois anos. Eu sei que as coisas não vão mudar no exato momento em que eu atingir a minha maioridade, mas eu sinto tanta pressão em mim, que faz parecer que sim.

Não sei exatamente do que eu tenho medo. Se são as novas responsabilidades, se é a pressão de ter uma grande vida acadêmica, de ser bem sucedida de todas as formas que a sociedade acha relevante, se é de envelhecer - eu simplesmente não sei. Só sei que quando penso na vida adulta que cada vez se aproxima mais de mim, sinto um desespero apavorante me tomar conta.

Quem sabe, meu medo de crescer seja na verdade a dor de ver a minha infância e adolescência se tornar apenas uma breve memória que algum dia eu já vivi, ou o arrependimento de não ter vivido essa fase por completo, por ter perdido tanto tempo em casa, sozinha. Por não ter me arriscado, me aventurado, por não criar experiências que eu me orgulharia de contar para os meus filhos. E não quero desperdiçar nada nesses últimos dois anos. Eu não posso deixar isso acontecer. Quero aproveitar minha família, meus amigos, meus últimos anos na escola. Não sei se vou saber lidar com o sentimento de não ter vivido nada se eu não aproveitar o tempo que me resta.

O ensino médio vai acabando e toda vez que escuto “já pensou o que quer fazer de faculdade?”, tenho vontade de fugir. Não consigo nem escolher o que vou almoçar no dia por conta própria - quem dirá escolher a profissão que seguirei pro resto da minha vida? E se tudo que eu sonhei na verdade não passar disso, apenas sonhos? E se eu não ter um emprego bom, e se eu depender dos meus pais para sempre? Eu não quero decepcionar a mim mesma, mas principalmente, não quero decepcionar as pessoas que mais amo: minha família.

O meu medo de não ser alguém que eu me orgulhe, mas que principalmente de que a minha família não se orgulhe me toma por completo. Eu sinto isso toda vez que vejo os olhos da minha mãe quando digo que quero viver de arte, e não algo que talvez ela tenha sonhado para mim. Eu não aguento pensar na rejeição daqueles que eu amo, mesmo que isso custe a minha felicidade.

E talvez seja dai venha o meu medo de crescer, porque no fundo, na verdade o que eu mais tema é ter que decepcionar quem eu amo para ser quem eu sou, quem eu nasci para ser. E todos nós sabemos que mesmo que você esconda, tudo sempre vem a tona.

Sinceramente, crescer é assustador. No fim, é só disso que tenho certeza. Quando todos esses questionamentos, todas essas perguntas vem a tona, tudo que eu consigo pensar é em como crescer é assustador. O que me conforta é saber que talvez não seja só eu. Que talvez todas essas pessoas confiantes ao meu lado, quando deitam em suas camas depois de um dia difícil, chorem pelo mesmo motivo que o meu; temam o futuro pelo mesmo motivo que o meu. Eu realmente espero que sim.

Espero que daqui a alguns anos eu possa ler esse texto e rir. Achar graça desse medo. Ter uma vida de que eu, acima de tudo e todos, me orgulhe, sem receios, sem culpa. Pois eu sei que mereço. Assim como qualquer um, eu mereço tem uma vida boa e feliz. E eu não posso desperdiçar a minha única vida esquecendo de quem eu verdadeiramente sou. Você também não pode.

Eu de fato acredito que este momento esteja longe de chegar, tenho muito caminho pela frente. E se a Fernanda Torres chegou ao auge com 50 e poucos anos, quem sou eu na fila do pão?

Se você também se sente assim, no fim, de uma coisa eu tenho certeza: tudo passa. Essa dor vai sarar em nosso peito. Pode ser que demore, mas vai passar.

“Nós somos muitos mais do que eles jamais serão. E podemos nos encontrar. Podemos nos ajudar. Podemos conversar. E podemos construir uma vida ótima. A felicidade não é algo para os outros. É para você. É para mim. É para todos nós. Nós decidimos ser felizes ou não” - (CHBOSKY, 2020)